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Podcast – CAFÉ BRASIL 627

OS DONOS DA LIBERDADE

https://omny.fm/shows/cafe-brasil/caf-brasil-627-os-donos-da-liberdade

Publicado originalmente – Luciano Pires –

Estamos em meio a uma das maiores mudanças da história da humanidade, com aquilo que chamamos de “mídia” sofrendo uma mutação expressiva, sem que saibamos para que lado vai.

De onde vem a informação que você consome, hein? Quem é que decide o que você consome? O que é que você produz, hein? Ah, é você é? E quem distribui, hein? Opa! Deletaram seu post, sua página?

Muito bem. Olha, eu comecei a escrever este programa com uma intenção e acabei mudando no meio dele. De repente, decidi transformá-lo numa grande reflexão. É sobre estes nossos tempos e, especialmente, nossa liberdade.

Comecei o texto incomodado com a notícia de que o Facebook, o Twitter e o Instagram, entre outras redes, estão derrubando páginas e perfis em todo o mundo, de pessoas e organizações que estariam violando suas regras de publicação.

Há uma crescente discussão sobre o viés ideológico que está por trás desses bloqueios de páginas, o que é preocupante a profundamente perturbador. Numa sociedade até aqui inebriada com a liberdade que as redes sociais trouxeram nos vemos perplexos diante de demonstrações de que essa liberdade é relativa.

Você é livre enquanto o dono da rede concordar com seu ponto de vista.

Bem, neste programa eu não vou entrar na questão ideológica, eu quero tratar de outra coisa. Do poder dessas redes e de como isso impacta em qualquer pessoa que queria produzir, distribuir ou simplesmente consumir conteúdo.

Para começar, vamos à definição de “mídia”: “todo suporte de difusão de informação que constitui um meio intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens.

O conjunto dos meios de comunicação social de massas, abrangendo o rádio, o cinema, a televisão, a imprensa, os satélites de comunicações, os meios eletrônicos e telemáticos de comunicação etc.”

Por essa definição, é tentador jogar a internet no mesmo balaio.

Mas a internet vai mais longe. Muito mais longe. O Google, o Facebook, o Twitter e a internet em si não são mídias. São algo novo que ainda não compreendemos totalmente.

As mídias são suportes, veículos que transmitem informações. É assim desde a antiguidade. Quando Gutemberg inventou a prensa, tornando a produção de livros e impressos possível em escala industrial, o conceito de mídia cresceu.

A mídia é o meio que transporta a informação até você.

Mas a internet não é só isso.

A internet é uma ferramenta que conecta seres humanos. 

Ela é sobre conexões e relacionamentos. Por ela transitam as informações, mas  numa via com duas mãos. As informações vão e vem.

Olhar uma tela de um celular ou um tablet e imaginar que aqueles textos, aquelas imagens e aquelas propagandas parecidas com tudo aquilo que sempre vimos nos jornais, revistas, rádio e TV, são uma “mídia”, é de um reducionismo que, no mínimo, leva a perder oportunidades valiosas.

E dentro da internet, as plataformas como Google, Facebook, Twitter e outras, também não são “editores”, produtores de conteúdo. São plataformas de conversação. E isso muda tudo.

As mídias sociais não são sobre levar conteúdo de um lugar para outro, mas sobre conectar pessoas.

Ué: mas não é isso que o telefone faz? Bom, se você pensar no processo que possibilita que você me ouça e retorne com algum feedback, é isso mesmo. Mas quando pensamos em escala, a coisa muda de figura.

Mídias sociais não são só um a um.

Pense neste podcast aqui, por exemplo, como uma mídia social. Sou eu falando e você ouvindo. Mas você pode pegar seu celular e mandar uma mensagem para mim agora.

Ou comentar na página do programa, no Facebook, no Twitter, sei lá. Pode compartilhar ou encaminhar. Com um monte de gente lendo e comentando em cima do seu comentário, fazendo um ruído imenso, tão maior quanto mais polêmico for o assunto e a troca de mensagens.

Esse ruído, esse barulhão é a sociedade conversando. E às vezes o barulho fica tão alto, que começa a incomodar. E alguém tem a ideia de controlá-lo. Começa então a discussão sobre a liberdade de expressão na internet. Até onde vai, hein?

Quando é que essa liberdade se torna uma ameaça? E se for ameaça, é ameaça a quem, hein?

E quem tem o poder de regular a ameaça? Quem tem a força para nos proteger? Ora, é um ente que nos represente como povo, como massa.

“É o Estado”.

E então descobrimos que nem tudo é cor-de-rosa.

Imagine o imperador todo poderoso, se ver sem poder para controlar a conversação entre seus milhões de súditos. Imagine um ambiente onde 3 bilhões de pessoas conectadas podem falar livremente. Podem produzir livremente conteúdo. Podem compartilhar livremente ideias, verdadeiras ou não.

Cara, a sociedade não está pronta para isso. É muito perigoso, é uma ameaça à ordem estabelecida.

E quando percebemos uma ameaça, temos de controlá-la.

Pornografia. Pedofilia. Terrorismo. Racismo. Essas coisas nos incomodam e não podem trafegar livremente. Mas se tudo isso era fácil de ser encontrado, controlado e censurado nas mídias tradicionais, como é que fica com a internet, hein?

Como é que você evita que o seu filho de seis anos entre numa página de pornografia? Ah, na sua casa ele não entra? Bom, quero ver na escola, cara…

Olha! É impossível controlar. A menos que você viva na China. Na Russia. No Irã. Na Turquia… aqueles paraísos onde o Estado tem poder para decidir o que, como, quando e onde você terá acesso a informações.

São paraísos onde não tem liberdade.

É então que surge o conceito do “pânico moral”, definido nas palavras da cientista de dados da UIniversidade do Arizona Ashley Crossman:

“Pânico moral é um medo espalhado pela sociedade, geralmente um medo irracional, de que alguém ou alguma coisa é uma ameaça aos valores, à segurança e aos interesses de uma comunidade ou sociedade. Tipicamente, o pânico moral é perpetuado pela mídia, alimentado por políticos e geralmente resulta na aprovação de novas leis e políticas que têm como alvo a fonte do pânico. Dessa forma, o pânico moral pode ampliar o controle social.”

Ampliar o controle social, meu…

Controle social refere-se às muitas formas pelas quais nosso comportamento, pensamentos e aparência são regulados por normas, regras, leis e estruturas sociais da sociedade. Nenhuma sociedade poderia existir sem alguma forma de controle social.

A questão é a partir de que ponto o controle social passa a ser instrumento de opressão ao indivíduo, hein? De privação da liberdade?

O controle social é exercido de duas formas. Existe o informal, aquele no qual seguimos normas e valores da sociedade, apoiados na cultura, na educação e naquilo que aprendemos com nossos pais e avós.

Por exemplo, responder com educação e polidez às pessoas com as quais temos interações. É o que se espera de quem tem alguma educação, não é? A penalidade por não seguir essas normas é ser ignorado ou até mesmo expulso pelos grupos nos quais estamos inseridos.

A outra forma de controle social é a formal, aquela controlada pelo Estado.

Quem aplica essas formas é a polícia, os militares, os agentes da lei. Em muitos casos, a simples presença de um policial já garante que as leis serão obedecidas. Em outros casos, é necessário intervenção.

É quando o controle social passa de informal para formal que o bicho pega pra valer.

Voltemos à internet.

Estamos às voltas com algo novo, são apenas 25 anos desde que a internet começou a tomar conta de nossas vidas, estamos na infância dela. E até agora, nos viramos para colocar ordem usando basicamente o controle social informal.

Você tem em mãos o instrumento de controle: pode banir, bloquear de suas páginas quem não se comporta conforme suas regras de convivência. Sempre foi assim e a gente foi levando.

Até Donald Trump vencer as eleições nos Estados Unidos.

Cara! Aquela eleição foi um processo traumático. Todos os donos do poder e da mídia eram contra Trump, lutaram com todas as forças, usaram todas as armas e, em determinado momento – exatamente como está acontecendo agora com Bolsonaro – entraram em choque direto com o candidato.

Trump passou a atacar a imprensa em seus comícios e a chamar as grandes redes de “fake news”. E o que se viu foi uma eleição sem precedentes, com um resultado que quebrou ao meio as mídias e colocou todos em pânico.

Talvez as mídias não tivessem o poder que julgavam ter. E isso é inadmissível.

Vamos buscar esse poder de volta, meu? Como, hein? Controlando as narrativas.

E onde é que as narrativas não tinham nenhum controle? Na internet.

É hora de colocar ordem nessa zona.

Muito bem. Tem que exercer então a censura.

Mas, pra não dar na cara o que é que se faz, hein? Busca-se a justificativa para poder calar as vozes dissonantes. E usa-se a justificativa de sempre: vamos proteger você de quem está lhe enganando.

Nós, a mídia que você sempre conheceu, não enganamos ninguém, viu? Somos empresas sérias, investigativas, focadas na verdade. É essa coisa aí na sua mão, esse tal de smartphone, esse computador, que está servindo de ferramenta para encher você de mentiras! Por isso vamos controlá-lo. Em nome da sua proteção.

E então começa a perseguição. Como se a culpa fosse da tecnologia. Mas cara: não é.

A culpa é das pessoas que usam a tecnologia. É de minorias que estão manipulando as plataformas para que você aja como do jeitinho que é o interesse delas.

Então chegamos à encruzilhada: a mesma tecnologia que me trouxe a completa liberdade para me informar, me expressar, me conectar, é a tecnologia que quer me manipular, me desinformar e me oprimir.

É quando nos vemos diante de um imenso conflito. As mídias não são mais o lugar do debate de ideias, o lugar onde se busca a verdade, o lugar confiável onde podemos encontrar soluções. Não.

São o território do conflito, onde minha tribo tem de vencer a sua, onde as ideias são julgadas por seus autores e não por seus méritos. Ganha quem grita mais. E os espertos sabem disso, então começam a gritar cada vez mais.

E aquele lagarto que mora no seu cérebro, atraído pelo torto, pelo escandaloso, pelo trágico – que são sempre mais fáceis de compreender – passa a dar audiência para quem é torto, escandaloso e trágico. Dane-se a lógica, dane-se o racional, a inteligência. Dane-se o bom gosto.

Mas aliás, que é que disse que o bom gosto existe, hein?

E aí é isso que a gente vê. Essa zona de informações, onde descobrir o que é confiável e o que é fake passa a ser uma tarefa diária. E onde surge em cada canto um justiceiro, pronto para aplicar suas armas de censura a quem ameaça o bem-estar da comunidade.

E alguns desses justiceiros, com autoridade garantida por seu status social, tornam-se juízes do comportamento alheio.  Especialmente dos indivíduos que estão incomodando a turma do “tá bom assim”.

E se esses juízes forem donos das plataformas sociais… aí, meu caro, aí você dançou.

Por isso, desde que comecei meu projeto do Café Brasil em 2004, investi em minhas redes. No meu site, no meu podcast, na minha hospedagem, na minha lista… Eu nunca coloquei as coisas nas mãos das plataformas de terceiros.

Só uso Facebook, Youtube, Twitter como ferramentas, mas nenhuma delas é mandatória para minha sobrevivência. E não é por frescura ou por ser um visionário não. É por uma constatação simples: como é que eu posso querer ser livre na casa dos outros? E se os outros mudarem as regras no meio do jogo?

Por exemplo, o Whatsapp acaba de mudar uma regra, limitando a distribuição de mensagens para 20 pessoas. Com isso, tornou impraticável enviar o Cafezinho para os quase 4 mil assinantes que tínhamos até então. E de repente, o Whatsapp puxa o tapete e o que acontece? Nada. A gente que se vire…

Olha! Não mesmo, viu? O que fiz nos últimos anos foi investir em canais onde a independência e a liberdade não fossem ameaçados. Minha rede social é o Telegram da Confraria Café Brasil, onde dá gosto participar. Em breve eu lanço um novo site com forum de debates, onde ninguém será atacado, humilhado, menosprezado pela opinião que tiver.

É tudo pequenininho, mas quem experimenta não quer mais saber das grandes mídias sociais manipuladas.

Os sinais de mudança estão por toda parte. A Editora Abril está acabando, a Rede Globo está apavorada, os jornais impressos desesperados. São dinossauros em extinção, sendo atropelados por outros lagartos menores, mais ágeis e adaptáveis.

Mas que já começaram a se achar… e serão exterminados por milhões de bactérias ainda mais espertas, ágeis e adaptáveis. E eu sou uma delas, cara!

Olha, tudo que está acontecendo nestes dias, com as plataformas cassando páginas e perfis, com as explicações cheias de hipocrisia, só reforça a ideia que há mais de 14 anos eu defendo: invista em seu site, no seu blog, na sua lista de e-mails, no seu aplicativo, nas suas formas de contatar o seu público.

Você vai perder visibilidade? Vai. Vai custar mais caro? Talvez. Vai perder  a eficiência? Ah! Vai sim.

Mas quanto é que vale a liberdade, hein?

Não sei pra você. Pra mim não tem preço.

Olha só, Marshall McLuhan, quase 60 anos atrás, disse que a tecnologia de impressão criou o público e a tecnologia elétrica criou as massas. Ora, se a impressão criou o público e a eletrônica criou as massas, o que é que a tecnologia da internet vai criar, hein?

Se alguém disser que sabe, está mentindo. Estamos em meio a uma das maiores mudanças que a humanidade já experimentou, onde o que deveria estar sendo defendido meu,  é a liberdade.

Por isso, dane-se o Facebook,dane-se o Twitter, dane-se o Youtube.

Na verdade o texto não é dane-se, mas vamos lá, vai : danem-sese esses jornalistas e justiceiros sociais que acham que sabem como eu devo viver.

Olha aqui: quem manda na minha vida sou eu.

Com o indignado Lalá Moreira na técnica, a estupefata Ciça Camargo na produção e eu, Luciano Pires, que sou muito mais eu, na direção e apresentação.

Estiveram conosco o ouvinte Mauro, lá de Cabo Verde, que inspirou a trilha sonora com Carmen Souza e Theo Pascal, Mendes Brothers, Humbertona, Bau e Lucibela. Você gostou da trilha cabo-verdiana, hein? Uma delícia, não é? E tem uma surpresinha no final do programa, viu?

Este é o Café Brasil. De onde veio este programa tem muito mais, especialmente para quem assina o cafebrasilpremium.com.br.

Pra terminar, uma frase do Barão de Montesquieu:

A liberdade é um bem tão apreciado, que todos nós queremos ser donos até da liberdade alheia.

FONTE: PODCAST CAFÉ BRASIL

OBS- Os textos grifados são de nossa autoria.

 

 

 

 

 

Redação Portugal

O Portal DN7 foi inaugurado em 2015 pelo Jornalista Internacional Alexandre Amaral Brunialti e tem como objetivo divulgar informações que contribuam para educação e a cultura geral. Promover a Cultura da PAZ. Direção: Welinton Brunialti MTB 0077859/SP

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