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Julieta e Jullyene: duas faces da violência contra a mulher

Para todas nós, sua vida é um símbolo e seu assassinato tem de ser um novo marco na luta pelo direito das mulheres no Brasil

Marina Amaral
Diretora executiva da Agência Pública –  [email protected]

Nesta sexta-feira, a palhaça venezuelana Julieta Hernandez, brutalmente assassinada em Presidente Figueiredo (AM) na véspera do Natal, será homenageada em diversas capitais e centros urbanos do país.

 

A morte de Miss Jujuba, artista itinerante que viajava de bicicleta desde 2015 pelo Brasil, comoveu principalmente ciclistas e mulheres que de pronto reconheceram como feminicídio o crime contra mais uma de nós que ousou exercer com plenitude seu direito humano à liberdade.

Vídeos e depoimentos sobre a artista, velada pela família e amigos na quarta-feira em Manaus, antes do enterro na Venezuela, revelam uma mulher sensível, generosa, feminista, talentosa, independente.

Não é à toa que, mais uma vez, o estupro antecedeu o assassinato, movido pelo ódio.

Julieta não nasceu para esperar o seu Romeu; Miss Jujuba tem outro lugar no mundo.

Lembro quando em 2018 a jornalista Andrea Dip lançou o mini doc “Sob Constante Ameaça”, seguido de um debate na Casa Pública, sobre a vulnerabilidade da mulher no exercício de seu direito à cidade.

Ir e vir cotidianamente do trabalho, por exemplo, já significa ameaça para boa parte das mulheres, como mostra o doc. No mesmo ano, uma pesquisa da organização Think Olga apontava que 90% das mulheres já desistiram de usar roupas mais curtas ou decotadas para evitar assédio nas ruas.

Outra pesquisa, divulgada no ano seguinte pela ONG Patrícia Galvão sobre violência contra a mulher no transporte público, revelou que 97%(!!!) das entrevistadas já havia sofrido assédio ao utilizar esse serviço em suas cidades.

Não achei dados mais recentes sobre a violação ao direito de ir e vir das mulheres, mas, nesse contexto, não é difícil imaginar o desafio que representa para o machismo estrutural a liberdade de Miss Jujuba, sua bike e sua arte, percorrendo sozinha os caminhos do país.

Para todas nós, sua vida é um símbolo e seu assassinato tem de ser um novo marco na luta pelo direito das mulheres no Brasil.

Não ficaremos em casa. Não viveremos dentro de limites pré-estabelecidos. Não nos negaremos a dar nossa contribuição ao mundo, como fazia a palhaça Jujuba alegrando crianças e adultos por onde passava.

Mais um detalhe cruel: antes de morrer, Juli, como é chamada pelos amigos, havia comprado leite para os cinco filhos do casal que a matou.

Entre 2017 e 2022, segundo dados do Monitor da Violência, houve uma queda de 31% no número de homicídios no Brasil.

O registro de casos de feminicídio, porém, aumentou 37% nesse mesmo período, fazendo com que o país ocupe o 5° lugar no ranking da ONU desse tipo de crime. Entre os motivos para a alta, de acordo com especialistas, está o corte de 90% dos recursos públicos

FONTE: AGÊNIA PÙBLICA

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