Pesquisadores avaliaram quase 3 mil homens e constataram o aumento de até 30% no risco de eles terem a contagem do sêmen abaixo dos padrões da OMS
Por que isso acontece?
Apesar de esse estudo demonstrar claramente a associação entre a quantidade dos gametas masculinos e o maior uso do aparelho de celular, ainda não há um entendimento completo de como e por que isso acontece – não é possível afirmar, por exemplo, que o uso do celular é a causa do problema.
“Uma das hipóteses seria a interferência das ondas eletromagnéticas emitidas pelos aparelhos em uso. Mesmo em stand by, os smartphones mais atuais estão o tempo todo conectados em aplicativos. Ainda não temos um entendimento completo de como essas ondas poderiam prejudicar a produção dos espermatozoides.
O que sabemos é que elas podem provocar um aquecimento na região onde está o celular e esse calor poderia ser uma das causas de prejuízo na produção de espermatozoides, já que os testículos preferem produzir espermatozoides numa temperatura mais baixa do que a corpórea”, explica Daniel Suslik Zylbersztejn, urologista especializado em reprodução humana do Hospital Israelita Albert Einstein e médico coordenador do Fleury Fertilidade.
Os pesquisadores constataram, por exemplo, que os homens que tiveram menor concentração e contagem total de esperma também eram homens que fumavam e bebiam mais, em comparação com os outros voluntários. Beber e fumar são fatores de risco, associados a hábitos ruins de vida, que podem impactar a saúde como um todo, incluindo a saúde reprodutiva.
“Esse trabalho tem um impacto interessante. Nem todos os homens nascem com o mesmo potencial de produção dos espermatozoides. E o estudo mostra que eles podem ser afetados de forma mais importante com o uso mais frequente do celular. Em homens já suscetíveis, com uma espermatogênese mais frágil, o uso constante do celular acaba tendo um papel mais relevante na redução do potencial de produção”, sugere Zylbersztejn.
Para Antunes, mesmo não sendo possível afirmar que as ondas eletromagnéticas do celular sejam a causa do problema, os resultados servem de alerta para questões que envolvem o estilo de vida do homem.
“Vários estudos mostram que, quanto mais tempo usamos as telas, maior o risco de ficarmos acima do peso, mantermos hábitos não saudáveis (como beber e fumar) e não praticarmos exercícios físicos. Isso nos acende um alerta real, afinal, o sedentarismo e a obesidade estão associados à piora da qualidade do sêmen. Independentemente da questão tecnológica, uma coisa leva à outra e o uso excessivo do celular pode ser mais um marcador de risco da piora da saúde reprodutiva”, diz.
A maioria guarda o celular no bolso da calça
Em relação ao local onde o celular era guardado enquanto não estava em uso, 85,7% dos homens informaram que punham o aparelho no bolso da calça, 4,6% deixavam em suas jaquetas ou em outro lugar e 9,7% mantinham o aparelho em um local fora do corpo.
A boa notícia é que o estudo constatou que o volume do sêmen, a motilidade e a morfologia dos espermatozoides não foram associados à posição do celular quando ele não estava em uso.
“O estudo mostra que não houve uma diferenciação de acordo com o local onde os homens guardavam o celular com a piora nos parâmetros espermáticos. Mas isso não quer dizer que não haja problema em o celular ficar o tempo todo no bolso da calça, muito próximo da bolsa testicular.
Do ponto de vista de cuidado, a gente pede que o homem não deixe o celular em uso dentro do bolso (para ouvir músicas, por exemplo) porque o aparelho aquece, vai liberar mais ondas eletromagnéticas próximas do testículo e isso não é adequado. A nossa orientação é, sempre que possível, tirar o celular do bolso e colocar numa mesa, mais longe do corpo”, alerta Zylbersztejn.
Segundo o especialista, ainda há poucos estudos em humanos que conseguem fazer essa associação entre o celular e a produção de espermatozoides porque existem muitos fatores confundidores. O que há hoje são basicamente estudos experimentais (feitos em animais), ou in vitro, utilizando o sêmen de humanos.
“Alguns estudos in vitro mostram que existe a diminuição da motilidade e o aumento da fragmentação do DNA desses espermatozoides quando se utilizam as ondas eletromagnéticas. O estudo suíço não demonstrou isso, mas é importante lembrar que estudos in vitro são completamente diferentes de estudos da vida real. O celular é indispensável, e usamos para absolutamente tudo: trabalho, diversão, mídias sociais e até para falar ao telefone. É muito difícil isolar o efeito único das ondas eletromagnéticas no uso de vida real do telefone. Ainda precisamos de mais estudos para entender o prejuízo real”, finaliza o urologista do Einstein.
Fonte: Agência Einstein