O Brasil ocupa uma posição de protagonismo no panorama internacional do nióbio.
É do território brasileiro que vem aproximadamente 90% da produção global e onde estão cerca de 95% das reservas conhecidas desse tipo de metal escasso e valioso, usado em ligas para as indústrias aeroespacial, automotiva, de armas, eletrônica e construção.
As riquezas de nióbio repousam principalmente em regiões como Minas Gerais, Amazonas, Goiás, Rondônia e Paraíba, onde se encontram complexos carbonatíticos, formações rochosas alcalinas repletas de carbonatos, fosfato e silicatos.
Esta substância, considerada rara e de imensa valor estratégico, desempenha um papel crucial em uma variedade de indústrias.
Primariamente empregado em ligas de aço, o nióbio se mostra essencial para aprimorar a resistência, leveza e eficiência energética desses materiais.
Mas suas aplicações vão além, abrangendo setores como supercondutores, medicina, entre outros.
Nióbio (Foto: WikiCommons)
Embora o Brasil lidere a produção mundial de nióbio, a maior parte desse metal é exportada na forma de liga ferronióbio, composta por cerca de dois terços de nióbio e um terço de ferro.
Essa liga é principalmente utilizada na fabricação de aços especiais e superligas.
Essa opção se deve a alguns motivos claros. Primeiramente, a demanda interna por produtos finais de nióbio é limitada. Além disso, a produção de produtos acabados requer tecnologia avançada e uma infraestrutura industrial que pode não estar prontamente disponível.
Portanto, economicamente falando, é mais viável para o Brasil exportar o nióbio como matéria-prima e importar os produtos já manufaturados.
E o país tem a China como principal cliente.
A presença chinesa
Beijing tornou-se um importante player na produção de nióbio no Brasil. Segundo a Ibram, em 2011, um consórcio chinês composto pelo Taiyuan Iron and Steel Group, Citic Group e Baosteel Group adquiriu 15% da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) por US$ 1,95 bilhão, conferindo à China uma fatia de 15% na produção nacional desse metal.
Em resumo, isso significa que uma parte significativa da produção de nióbio do Brasil está sob controle estrangeiro.
Além disso, em 2016, a empresa chinesa CMOC adquiriu ativos importantes, incluindo a Niobras Mineração, o segundo maior produtor mundial de nióbio, e a Copebras Indústria, o segundo maior produtor brasileiro de fertilizantes fosfatados.
Essas compras revelam o interesse estratégico da China no nióbio brasileiro e sua vontade de garantir o acesso a esse metal. Como um dos maiores consumidores mundiais de nióbio, Beijing faz uso dele em diversos setores, como siderurgia, eletrônicos, aeroespacial e defesa.
Por isso, ter uma parcela na produção brasileira de nióbio é de extrema importância para os chineses.
No contexto da economia, surge uma questão de dependência. A venda de nióbio como matéria-prima pode estar restringindo o potencial econômico do Brasil. Apesar de liderar a produção mundial desse metal, a maior parte do nióbio é exportada na forma de liga ferronióbio.
Isso sugere que o Brasil esteja deixando de agregar valor ao nióbio por meio da produção de produtos finais, segundo reportagem do UOL.
O impacto ambiental também deve ser observado, já que as atividades de mineração podem causar danos significativos ao meio ambiente, segundo o site China Dialogue. Por exemplo, as explosões na mina de nióbio chinesa em Catalão, no estado de Goiás, afetaram os recursos hídricos, a qualidade do ar e causaram rachaduras nas paredes das residências.
Além disso, há relatos de redução do fluxo de água em córregos e nascentes, deterioração da qualidade do ar e poluição sonora.
Destino: Beijing
Embora os países latino-americanos sejam grandes exploradores de minerais estratégicos, a maior parte do processamento, refino e produção de alto valor agregado ocorre fora da região, segundo artigo do think tank CSIS (Center for Strategic and International Studies).
A China se destaca nesse cenário, sendo o principal produtor de componentes minerais refinados devido à sua concentração de instalações de processamento.
Além do Brasil, a China é o destino primário das exportações minerais de países como Chile, Panamá e Peru. Em 2021, mais de 65% das exportações minerais chilenas, avaliadas em US$ 22,5 bilhões, foram absorvidas pela China, representando cerca de 6% do PIB chileno.
Para garantir uma cadeia de suprimentos resiliente e minimizar perturbações, segundo o artigo, os Estados Unidos e seus aliados precisam “promover políticas que incentivem o desenvolvimento de cadeias de valor dentro do hemisfério, mobilizando o setor privado para esse fim”.
A China lidera a cadeia de valor do alumínio, refinando quase 10 vezes mais que o segundo colocado, a Índia. Anteriormente, a América do Sul era uma grande exportadora de alumínio, mas países como Venezuela e Brasil enfrentaram desafios.
A Venezuela produz atualmente 20 vezes menos alumínio do que em 2011, devido à má gestão e falta de energia.
No Brasil, fechamentos de instalações de fundição ocorreram devido à competição com empresas chinesas e do Oriente Médio, mas a reativação da Alumar em 2023, uma das maiores produtoras de alumina do mundo e uma das maiores empresas instaladas no estado do Maranhão, impulsionou a produção.
“Investimentos contínuos na indústria de alumínio e metais na América são cruciais para fortalecer as cadeias de abastecimento e garantir a segurança industrial e nacional”, diz o artigo.