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Café Brasil 911 – Idioters fazem influencers

Empresas de tabaco, que gastaram bilhões de dólares obscurecendo o conhecimento sobre os efeitos do tabagismo na saúde dos fumantes.

“O que cria um influencer é a quantidade de idioters” é a frase de uma das mais novas camisetas da loja Café Brasil. O que quer dizer isso, hein?

Que um youtuber falando merda para 2 milhões de seguidores, só sobrevive porque tem 2 milhões dando-lhe ouvidos. A culpa não é do Youtuber, que está entregando aquilo que seu público quer.

E o mesmo vale para a música, literatura, cinema, jornalismo… gente demais falando merda, gente demais ouvindo, lendo e assistindo merda. Mas afinal, se a turma gosta de merda, qual é o problema?

Bem, eu recorro a um texto de Rubem Alves citando Schopenhauer:

“No que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante. Essa arte consiste em nem sequer folhear o que ocupa o grande público. Para ler o bom, uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos… Muitos eruditos leram até ficar estúpidos.”

Pois é. A arte de escolher aquilo que você não quer saber. A arte de perceber que você precisa criar filtros para se proteger daquilo que não presta. Até para abrir espaço para o que presta, sacou? A arte de não dar espaço pra quem fala merda.

O nome disso é liberdade… Este episódio foi inspirado por outro láááááá de 2017, chamado “A arte de falar merda”.

Os ouvintes mais atentos vão perceber que eu estou usando alguns textos dos Cafezinhos aqui no Café Brasil, mas essa é a ideia mesmo, né? O Cafezinho levanta a bola e o Café Brasil cabeceia.

Um memorando confidencial da indústria do tabaco, chamado de Proposta de Tabagismo e Saúde, foi revelado ao público nos Estados Unidos em 1979. Ele foi escrito uma década antes pela empresa de tabaco Brown e Williamson para combater as “forças anti-cigarro”.

O documento examina as maneiras pelas quais os cigarros são vendidos ao público em massa, e diz assim: “A dúvida é nosso produto, pois é o melhor meio de competir com o ‘conjunto de fatos’ que existe na mente do público em geral. É também o meio de estabelecer uma controvérsia.”

Entendeu? Os caras pregavam a dúvida.

A revelação do memorando despertou o interesse de Robert Proctor, historiador da ciência da Universidade de Stanford, que começou a se aprofundar nas práticas das empresas de tabaco, que gastaram bilhões de dólares obscurecendo o conhecimento sobre os efeitos do tabagismo na saúde dos fumantes. Essa busca levou Proctor a criar uma palavra para o estudo da propagação deliberada da ignorância: a agnotologia.

Agnotologia vem de “agnosis”, a palavra grega neoclássica para ignorância ou “não saber”, e “ontologia”, o ramo da metafísica que trata da natureza do ser.

A agnotologia explora como os interesses políticos, econômicos, culturais e ideológicos podem promover a criação de dúvidas e incertezas em torno de questões científicas, históricas e sociais, geralmente para vender um produto ou ganhar favores. Isso inclui a disseminação de desinformação deliberada, a manipulação da opinião pública, a ocultação de informações relevantes e a criação de ambiguidades.

Alguns grupos ou indivíduos negam eventos históricos amplamente aceitos, como a chegada do homem à lua ou o Holocausto, por exemplo.

Eles espalham teorias da conspiração e desinformação para minar o conhecimento histórico e criar dúvidas sobre a ocorrência desses eventos.

Políticos e partidos políticos distorcem fatos e dados para promover suas agendas e criar incertezas sobre questões importantes, como a economia, a segurança nacional e a saúde pública.

Esses grupos usam especialmente a imprensa, na verdade, hoje em dia todas as mídias, para propagar a ignorância sob o pretexto de um debate equilibrado.

Mas a ideia comum de que sempre haverá duas visões opostas nem sempre resulta em uma conclusão racional.

A agnotologia é um campo de estudo interdisciplinar que combina elementos da sociologia, da história, da comunicação e da psicologia para entender como o desconhecimento é produzido e sustentado em diferentes contextos sociais e culturais.

Proctor diz assim:

“A ignorância não é apenas o ainda não conhecido, é também um estratagema político, uma criação deliberada de agentes poderosos que querem que você ‘não saiba’.”

Você entendeu? O conhecimento está acessível como nunca antes, é importante que esse acesso seja cortado. Por quê? Porque ignorância é poder, meu caro.

Aprenda isso. Ignorância cria idioters. E idioters criam influencers.

É preciso parar de perder tempo com eles.

OLha, eu aqui estou empenhado em produzir conteúdo que preste para não idioters. Vamos ver o balanço de 2023. Vou relembrar aqui: foram 48 episódios do LíderCast, 51 episódios do Cafezinho, 51 do Café Brasil e 51 do Café Com Leite. Aproximadamente 870 horas de conteúdo sem apelação, sem celebridades, sem rede de influencers para viralizar. O Café Brasil chegou no episódio 900, o LíderCast no 300 e o Cafezinho no 600. E o Café Com Leite atingiu 800 mil downloads!

Lançamos o livro Merdades e Ventiras na Livraria da Travessa; lançamos o site do podcastcafecomleite.com.br; lançamos o curso Inteligência Acima da Mídia; fizemos duas campanhas de marketing digital; duas rodadas do Mastermind MLA; lançamos a livrariacafebrasil.com.br; fiz 42 palestras pelo Brasil; promovi o evento Humanos no Teatro UOL… ah, claro, e ainda tive tempo para celebrar um casamento, cara.

Tudo isso de forma independente, sem agência de influencers, sem anunciantes de peso, sem nada, a não ser teimosia. E a ajuda de uma fração mínima de nossos ouvintes e leitores. Mínima mesmo.

E o que é que não a gente não fez aqui?

Não negociamos nossos valores, não tripudiamos sobre a inteligência de nossos leitores e ouvintes, não topamos tudo por dinheiro, não entramos nas fórmulas e na estética do mundo digital aético e normótico, não mudamos de lado para ficar bem com a patota… demos um sonoro foda-se para quem tentou encaixar nosso pensamento redondo numa caixa quadrada. Tudo isso sem falar merda.

Em 2024 vamos dobrar a meta.

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Sempre acreditamos que somos pessoas racionais, não é? Mas a cada dia as pesquisas demonstram que não é bem assim. Quando se depara com uma situação de incerteza, a maioria das pessoas não sai automaticamente levantando dados, avaliando informações para embasar suas opiniões e escolhas.

Na verdade, as pessoas apelam para certos atalhos mentais, que normalmente as levam a tomar decisões estúpidas. Entre elas, falar merda. E isso nada tem a ver com a inteligência da pessoa. Quantos caras inteligentes você já viu falando merda?

Cabe a nós, portanto, para podermos tomar as melhores decisões, evitar cair na rede dos faladores de merda. Escolher qual alimento intelectual vamos consumir.

Vamos então dar uma mergulhada no “falar merda” para podermos nos proteger de quem o faz.

As pessoas têm falado merda, negado que estavam falando merda e acusado os outros de falar merda por séculos. O termo “falar merda” tem uma origem incerta. Os norte americanos usam “bullshit”, que pode ser traduzido como “bosta de boi”.

Mas há quem diga que tudo começou como uma referência desprezível às “bulas” papais (do termo “bulla”, ou selo, aposto ao documento). Outra origem ligava-a a Obadiah Bull, um advogado irlandês em Londres durante o reinado de Henrique VII, que fazia discursos sem sentido.

Foi apenas no século XX que o uso de “bullshit” para significar linguagem pretensiosa, enganosa e vazia se tornou semanticamente associado ao macho da espécie bovina – ou, mais particularmente, ao excremento produzido por ele.

“Bullshit” com o sentido de “falar merda”, segundo os dicionários, entrou em circulação por volta de 1915. Não sei se emprestamos dos americanos o “bullshit”, o que sei é que a expressão “falar merda” é utilizada para desacreditar ou criticar alguém que está dizendo algo sem valor, desprovido de lógica ou que não contribui para uma conversa significativa.

O livro “On bullshit” ou “Sobre falar merda” do filósofo americano Harry Frankfurt discute a natureza das declarações falsas, enganosas e vazias. Frankfurt argumenta que o “bullshit” é diferente tanto das mentiras quanto das declarações verdadeiras.

Ele discute como as pessoas frequentemente fazem declarações insinceras e vazias apenas para dar a impressão de saber ou autoridade e não para enganar os outros. É como se estivessem falando só por falar, sem pensar se faz sentido ou se tem uma boa razão para dizer aquilo.

Curiosamente, apesar da prevalência do falar merda ao nosso redor, os filósofos têm prestado pouca atenção a isso. Ao contrário dos conceitos de verdade, conhecimento, falsidade e mentira, não havia análises da noção de falar merda até o ensaio de Harry Frankfurt.

Também não havia uma teoria de por que o falar merda ocorre, ou por que ele é ruim. As perguntas básicas sobre falar merda não haviam sido feitas e muito menos respondidas. O terreno está, portanto, maduro para a análise filosófica.

Qual é a diferença entre “falar merda” e mentir então, hein? Ao contrário dos que “falam merda”, os mentirosos conhecem a verdade, eles apenas escolhem escondê-la. Mentir é expressar intencional e deliberadamente algo que se sabe ser falso com o objetivo de fazê-lo passar como verdadeiro.

Como resultado, ‘O mentiroso está inevitavelmente preocupado com os valores da verdade. Para inventar uma mentira, ele deve pensar que sabe o que é verdade.’

“Falar merda”, por outro lado, é essencialmente sobre não se importar com a verdade. Como resultado, “falar merda” pode até ser sobre a verdade. A chave está na pessoa não saber ou não se importar se é verdade quando a professa.

Harry Frankfurt argumenta que “falar merda” é mais perigoso do que mentir, o que, à primeira vista, parece contraditório. Certamente, mentir é pior do que “falar merda”, não é? Os mentirosos estão tentando enganar intencional e deliberadamente.

Normalmente, fazer algo ruim (como enganar alguém) intencionalmente torna a ação pior do que se for feita involuntariamente, por exemplo, acidentalmente ou de forma distraída. Se esse for o caso, como é que “falar merda” pode ser pior do que mentir?

A razão que Frankfurt dá é que, enquanto os mentirosos pelo menos respeitam um pouco a diferença entre o que é verdadeiro e o que não é, os que “falam merda” a ignoram completamente. Eles simplesmente não se importam com a diferença. Isso, Frankfurt argumenta, significa que os que “falam merda” compulsivos tornam-se progressivamente menos capazes de dizer a verdade do que os mentirosos compulsivos.

Mentirosos e verdadeiros estão jogando em lados opostos do mesmo jogo. Os que “falam merda” estão jogando um jogo completamente diferente, no qual as regras da verdade não importam. Essa falta de preocupação é mais corrosiva para a capacidade de alguém distinguir a verdade do que o obscurecimento deliberado da verdade. Uma vez que alguém entra no hábito de “falar merda”, é difícil sair dele.

Aproveitando a deixa, começamos 2024 com tudo em minha Mentoria MLA – Master Life Administration, um programa de treinamento contínuo em que reunimos pessoas interessadas em conversar sobre temas voltados ao crescimento pessoal e profissional.Lá não tem ninguém falando merda, cara! A intenção é melhorar nossa capacidade de comparar e avaliar as diferentes versões da realidade que nos são servidas todos os dias. No MLA formamos um círculo de honra e confiança entre pessoas que buscam o bem comum. Um círculo de conspiradores.

Ainda temos vagas disponíveis, se você se interessa em estar comigo, acesse mundocafebrasil.com e clique no link para saber mais.

E se você é assinante do Café Brasil agora vem o conteúdo extra. Se não é assinante, vamos ao fechamento

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Mas, por que as pessoas falam merda, hein? Putz cara, tem várias razões, que podem variar de pessoa para pessoa. Por exemplo, por falta de conhecimento. Às vezes, as pessoas simplesmente não têm informações precisas sobre um tópico, e mesmo assim teimam em falar a respeito. E falam merda.

Os influencers, os youtubers, essa turma toda, cara.

Pode ser por pressão social. Em certos contextos, as pessoas podem sentir a pressão para se encaixar ou parecerem mais inteligentes do que são, levando-as a falar coisas sem sentido apenas para impressionar os outros.

Quem nunca?

Pode ser por desatenção. Em conversas informais ou distraídas, as pessoas podem não prestar muita atenção ao que estão dizendo, e acabam falando merda. Um deslize desculpável, se não for um hábito.

Pode ser por conta de emoções intensas. Em situações emocionalmente carregadas, as pessoas podem falar impulsivamente sem pensar nas consequências de suas palavras. Quantas vezes “perdemos a razão” quando desembestamos a falar por conta de uma emoção incontrolável?

Pode ser por simples desinformação. A exposição a informações incorretas ou desinformação pode levar as pessoas a acreditar e repetir coisas que não são verdadeiras. É o tal gado que repete frases feitas, hashtags ou conceitos porque o chefe mandou.

Esses são os que mais existem.

E parecido com esses, são os que falam merda por conformidade social. Em grupos onde determinadas crenças são valorizadas, as pessoas podem aderir a essas crenças e repeti-las, mesmo que não acreditem nelas, para se encaixarem. Para ficar bem com a patota, entende?

E às vezes a pessoa pode falar merda simplesmente por não ser capaz de ter uma comunicação adequada. Podem lutar para expressar suas ideias de forma clara, mas ou não têm o vocabulário e o repertório de ideias ou não tem a capacidade cognitiva e acabam falando besteira como resultado.

E, por fim, mas não menos importante, tem quem fala merda por ignorância deliberada. Algumas pessoas podem optar por ignorar os fatos ou distorcê-los para promover uma agenda pessoal ou política.

Esses são os canalhas manipuladores, é importante determinar quem são e onde estão.

Todos nós podemos cometer erros ao falar, e isso é muito normal. O que não é normal é fazer isso de forma deliberada para manipular os outros.

Aí já é má fé e canalhice.

O sujeito sabe que o que está falando é merda, e fala assim mesmo, na intenção de obter algum resultado. Pode ser um hater querendo causar, um especulador querendo criar caso, um político querendo obter vantagem, alguém interessado em causar algum conflito do qual possa sair ganhando.

Esses são os piores, porque não têm a ingenuidade da ignorância ou da soberba, não tem a intenção puramente pragmática do estratégico. São canalhas mesmo, querem vantagem para si e os outros que se explodam.

E aí meu, é complicado lidar com eles.

A má fé e a canalhice fazem parte da arte de falar merda.

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Eu sou o caso deles
Luiz Galvão
Moraes Moreira

Minha velha é louca por mim
Só porque eu sou assim
Meu pai, por sua vez
Se liga na minha
E nos “butecos” onde passa
Não dá outro papo

Eu sou o caso deles
Sou eu que esquento a vida deles
No fundo, no fundo
Coloco os velhos no mundo
Boto na realidade
Mostro a eternidade
Senão eles pensavam
Que tudo era divino maravilhoso
Levavam tudo na esportiva
Ficavam contanto com a sorte
E não se conformariam com a morte

É assim então, ao som de Eu sou o caso deles, de Luiz Galvão e Moraes Moreira, com os Novos Baianos, que vamos saindo pensativos.

Sabe por que eu escolhi essa música, cara? Porque a letra mostra o que é um bom influencer…

No fundo, no fundo
Coloco os velhos, os meus no mundo
Boto na realidade
Mostro a eternidade
Senão eles pensavam
Que tudo era divino maravilhoso

Meu, que programa cheio de palavrão, não é?

Mas não é palavrão ofensivo não, esse aqui é até didático. E tem outra coisa, você não faz ideia no prazer que dá para um bauruense que a vida inteira falou meRda, falar merda.

E você que está preocupado em não falar merda, veja quem é que você está seguindo. Quem são seus influencers. Quais opiniões você está ouvindo. Que credenciais tem quem dá essas opiniões.

É só um curioso que grita e fala por ouvir falar? Esse sujeito a quem você está dando seu tempo de vida viveu o assunto que comenta?

Ou é só orelhada, hein? Tenha um filtro, meu caro, minha cara. Escolha ignorar. Para o bem do mundo, do Brasil, da sua família e seu mesmo, bote na cabeça: não dá para ser mestre sem antes ser discípulo.

E o bom discípulo escolhe o mestre que quer ter.

Reitero aqui meu convite: junte-se aos conspiradores do Café Brasil: canalcafebrasil.com.br. Escolha seu plano pule pro barco, torne-se um assinante.

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí, que completa o ciclo.

De onde veio este programa tem muito mais. E se você gosta do podcast, imagine só uma palestra ao vivo. E eu já tenho mais de mil e cem no currículo, sem falar merda. Conheça os temas que eu abordo no mundocafebrasil.com.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Café Brasil.

E para terminar, eu vou usar a mesma frase daquele programa de 2017. É do Michael Crichton:

A vida é dura, mas é mais dura se você for um estúpido.

 

FONTE: PODCAST CAFÉ BRASIL

 

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